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Foto do escritorAndré Souza

5 Perguntas para Adiana Salles Gomes, Editora-Chefe da HSM



O meu papo hoje nesta série das "5 Perguntas para o Futuro" é com a Adriana Salles Gomes, Editora-Chefe da Revista HSM Management e também da HSM Books, o braço de livros da HSM que publica grandes autores da gestão mundial.


Com isso, ela é hoje a editora da HSM Publishing como um todo.


A Adriana tem estado em contato com grandes Pensadores, Líderes e Executivos ao longo dos últimos 20 anos.


Além de termos falado sobre o Futuro do Trabalho, uma das grandes contribuições da

Adriana nesta série de perguntas é oferecer uma visão dos desafios das Organizações, Líderes e até do RH nos próximos anos.


Confira abaixo o resultado desse bate-bola com a Adriana abaixo!


***


1. Adriana, com todas as transformações que estamos vivendo, quais os principais desafios das organizações nos próximos anos?


A maioria dos desafios já está mapeada, então não vou me alongar sobre eles: aprender constantemente, colocar o poder de decisão nas pontas, ter agilidade para mudar de direção sempre que for preciso, engajar as pessoas, equilibrar os pratos do presente e do futuro.


Acho melhor apontar um desafio que ainda é pouco percebido: a governança multi-stakeholderes. As empresas estão muito longe de saber levar múltiplos interesses em conta em suas decisões, e isso vai ser cada vez mais necessário em um mundo VUCA – volátil, incerto, complexo e ambíguo.


A matéria de capa da HSM Management de novembro (de 2018) é o trabalho da Fundação Renova, que foi criada para gerenciar as consequências do trágico desastre de Mariana, do rompimento da barragem da Samarco que destroço a região do rio Doce em termos ambientais, sociais e econômicos.


Trata-se de um laboratório de governança multi-stakeholders que serve para todas as empresas.


2. E quanto aos líderes? O que muda na atuação de um Líder nas organizações daqui pra frente?


Os líderes, tanto os executivos como os dos conselhos de administração, vão ter de aprender não a buscar consenso, porque muitas vezes isso não é possível em situações VUCA, mas a obter o consentimento das diferentes partes envolvidas.


Precisam fazer isso para que a implementação de suas iniciativas possa acontecer, e com a rapidez necessária. Isso exige uma imensa capacidade de diálogo com o diverso. Que é o oposto do que temos visto na sociedade brasileira, infelizmente...


3. As organizações têm tido grandes desafios para atrair e, principalmente, manter talentos. O que precisa mudar na Gestão de Talentos nas empresas daqui pra frente?


Acho que precisam ser sinceras no que dizem. Não são – mesmo as bem-intencionadas. Falam em diversidade, mas só contratam e promovem mais do mesmo, com a desculpa de que o diverso não está pronto. Não está pronto de fato – e nunca estará, se ninguém investir nele.


As áreas de gestão de talentos precisam correr tanto risco quanto as áreas de inovação, ou quando administradores de venture capital. Hoje o RH faz sua modalidade de greenwashing – o diversity washing.


4. Adriana, como Editora de uma das maiores Revistas de Negócios do país, você precisa estar sempre antenada no que está rolando hoje e nos próximos anos. Como você faz para manter-se atualizada e se desenvolver profissionalmente?


O que eu faço é, de certo modo, meio contra-intuitivo.


Eu não fico como barata tonta atrás de todas as informações que vão surgindo, embora eu assine 5 newsletters por dia, 3 jornais brasileiros e 3 estrangeiros, e leia mais dezenas de revistas por mês, além de ouvir muitos podcasts.


O que eu faço, cada vez mais, é aprofundar o conhecimento – em livros, cursos, matérias de revistas e jornais longas e detalhadas, e conversas relevantes e significativas.


E o aprofundamento não é só em negócios e economia, de modo algum. Gosto muito de ciências em geral (humanas e da natureza) e de artes (literatura, cinema, música, artes plásticas). Tudo encaixa, sabia?! É maluco isso, mas tudo encaixa feito um quebra-cabeças.


Conhecimento de verdade, acho eu, funciona como um ímã para as informações novas que chegam pelas newsletters e noticiário ligeiro. Faz tudo cair no lugar certo, e com contexto.


Minha recomendação é que fujam do superficial. Onde é que dá para nadar? Onde o mar fica mais fundo; o raso é um horror, você só se suja na areia.


5. Qual a sua visão sobre o Futuro do Trabalho?


Esses dias, uma amiga citou um livro do Eugène Ionesco, o “pai” do teatro do absurdo, chamado “O Rinoceronte”.


É a história de um rinoceronte que chega a uma cidade e as pessoas tentam, apesar da situação absurda, continuar vivendo como antes. Elas se detêm em detalhes como “ele tem um chifre ou dois?”, em vez de se preocupar com a essência do problema e com a maneira de resolvê-lo.


Acho que o futuro do trabalho é o rinoceronte e as pessoas ainda pensam em questões cosméticas, desimportantes. Governos, empresas e pessoas físicas ficam só observando se o animal tem um chifre ou dois.


No Brasil, isso é ainda pior.


O futuro do trabalho pode ser uma hecatombe, se a gente continuar fazendo o que faz hoje. Mas, se nos dedicarmos ao assunto, pode virar uma folha em branco em que poderemos escrever um lindo poema.


É importante dizer que o futuro do trabalho não levará tanto tempo assim para chegar. O Yuval Harari arriscou não mais do que 30 anos e eu concordo com ele.


***

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