Os números da Microsoft nos últimos 10 anos impressionam:
Crescimento de 718% no valor de mercado.
Crescimento de 185% no faturamento.
Crescimento de 300% no lucro líquido.
Olhando para os resultados fantásticos da Microsoft nos últimos anos é difícil lembrar que em 2014 a empresa enfrentava um grande desafio nos negócios...
Naquela época, vivíamos o crescimento exponencial dos smartphones após o lançamento do iPhone pela Apple. Em paralelo, as vendas de PCs no mercado global vinham caindo ano a ano.
Os produtos da Microsoft também estavam em declínio.
Steve Ballmer (CEO da Microsoft em 2007) ri do iPhone na época do seu lançamento
E além disso, a empresa começava a sofrer competição do Google, que passava a oferecer produtos semelhantes ao Office em sua plataforma - e o que é pior: gratuitamente....
A empresa tinha um problema claro de falta de inovação e uma dependência muito grande do Windows. Isso gerava no mercado uma percepção de um futuro, no mínimo, duvidoso.
O resultado? O preço das ações da Microsoft estava estagnado.
E poucos conseguiam enxergam um caminho que fizesse a Microsoft a voltar a ter a relevância e impacto que teve nos anos 80 e 90.
Preço das Ações da Microsoft até 2014.
Para completar, a cultura da Microsoft contribuía para esse cenário de estagnação.
Os anos de glória fizeram os funcionários perderem o contato com as necessidades dos clientes. Um sentimento de autossuficiência e uma certa arrogância intelectual reinava nos corredores (o que Satya Nadella chamava de "Know-it All Attitude").
E por conta do gigantismo e de uma vaca leiteira (o Windows) que ainda rendia bons lucros, os 120.000 funcionários acabavam focando mais em suas batalhas políticas internas do que em gerar valor para os clientes.
Satya Nadella assume como CEO da Microsoft em 2014.
Em toda a história da Microsoft, a empresa só havia tido dois CEOs até então:
Bill Gates, fundador e a cara da empresa por décadas.
Steve Ballmer, que liderou a empresa na chamada "década perdida", onde os desafios da Microsoft começaram a dar os primeiros sinais.
Satya Nadella, Bill Gates e Steve Ballmer
Satya Nadella assume então em Fevereiro de 2014 com a missão de transformar a Microsoft e trazê-la novamente ao topo do mercado de tecnologia.
O mercado recebeu a notícia do novo CEO de forma cética.
Afinal, a expectativa era que alguém de fora da Microsoft assumisse como novo CEO para conduzir essa transformação e dar novos ares para a empresa...
No entanto, de forma até surpreendente, a Microsoft optou por Satya, um engenheiro de carreira da empresa. Ele começou a trabalhar na Microsoft em 1992, como Gerente de Programação e mais tarde teve papel fundamental na criação do Azure. Antes de assumir como CEO, era o Líder da Divisão de Servidores da Microsoft.
Após 10 anos de Satya Nadella como CEO, a Microsoft vale hoje (Outubro/2024) mais de US$ 3,11 trilhões. Quando Satya assumiu em 2014, a empresa valia 8 vezes menos (!!!): US$ 380 bilhões.
Veja o salto exponencial no valor de mercado da Microsoft após Nadella assumir em 2014:
Mas o que Satya Nadella fez de diferente?
Quais as lições que Empreendedores, Executivos e Líderes podem tirar dessa verdadeira transformação?
1. Honrar o passado mas com um olhar inspirador de futuro.
Todo o processo começou com um email para os 120.000 funcionários da empresa.
Uma mensagem histórica. Seguem algumas frases interessantes nessa mensagem para os colaboradores:
"Em nossa história recente, a nossa missão era colocar o PC em cada mesa e em casa, um objetivo que temos alcançado na maior parte do mundo desenvolvido. (...)
Ao olharmos para a frente, devemos olhar para o que exclusivamente a Microsoft pode contribuir para o mundo. (...)
Nossa indústria não respeita tradição. Ela só respeita INOVAÇÃO. (...)
Parafraseando uma citação de Oscar Wilde – é preciso acreditar no impossível e remover o improvável.
Em seguida, cada um de nós tem de fazer o nosso melhor trabalho, liderar e ajudar a impulsionar a mudança cultural. Às vezes subestimamos as coisas de que cada um de nós é capaz para fazer as coisas acontecerem e superestimamos o que os outros precisam fazer para nos mover para frente. "
2. Uma nova visão de futuro e uma nova estratégia.
Satya Nadella sabia que, para redefinir os rumos da empresa, ele precisaria de uma nova estratégia e reformular sua cultura.
Em sua primeira aparição pública depois de ser nomeado CEO, Nadella deixou claro quais seriam as prioridades para o negócio dali em diante.
Em vez de proteger os seus ativos, numa postura defensiva, a Microsoft partiu para a ofensiva, investindo pesado em áreas de alto crescimento que a Microsoft não atuava...
Havia duas áreas que estavam crescendo exponencialmente no mercado, mas que a Microsoft participava como mera coadjuvante: a computação móvel e a computação em nuvem.
Por isso, do lado da estratégia do negócio, Satya Nadella definiu claramente uma nova visão de futuro e três ambições concretas:
Tornar a Microsoft referência como plataforma de nuvem inteligente.
Avançar na computação móvel.
Reinventar a produtividade e os processos da empresa.
(Um tempo depois, a Inteligência Artificial se uniu a esses três elementos).
Satya compartilhou uma nova Visão de Futuro para a empresa.
A Microsoft deve, a partir de agora, ajudar a capacitar seus clientes a fazerem mais e melhor, onde quer que estejam, independente do dispositivo que utilizem.
O propósito de Nadella de capacitar todas as pessoas do planeta e de focar em novos produtos inspirou líderes e equipes.
Eles puderam ver como isso se aplicava ao seu trabalho diário, fossem eles programadores, designers, profissionais de marketing ou técnicos de suporte ao cliente.
É exatamente dessa forma que ajudamos nossos clientes a terem mais clareza sobre a direção estratégica que precisam para fazer suas organizações crescerem.
Utilizamos diversas ferramentas que ajudam Executivos e Líderes a mapear os desafios, criar uma nova visão de futuro e definir novos caminhos estratégicos.
Sem isso, fica muito difícil engajar toda a organização de forma objetiva.
3. A grande transformação: a conexão entre Estratégia e uma nova Cultura
Como sabemos, a dominância do Windows nas décadas anteriores acabou produzindo uma cultura de competição intensa e agressiva na Microsoft.
Dentro da empresa, havia a percepção de que cada funcionário tinha que provar a todos que era a pessoa mais inteligente da sala.
A espontaneidade e a criatividade praticamente não tinham espaço na empresa. A empresa trabalhava em silos e havia pouca colaboração entre equipes e áreas.
Além disso, a Microsoft também não desenvolvia alianças e parcerias com outras empresas e startups. Equipes e líderes eram muito pouco abertos ao aprendizado sobre o que estava sendo feito de diferente no mundo.
A empresa não inovava e a geração de novas soluções eram limitadas pois não se valorizavam perspectivas e ideias diferentes na empresa.
Era uma cultura rígida e hierárquica. Se um líder sênior quisesse aproveitar a energia e a criatividade de alguém em uma posição mais júnior na empresa, era preciso convidar o gestor dessa pessoa.
Cartoon de Manu Cornet satirizando a Cultura da Microsoft
Isso tudo gerava uma cultura de manutenção do status quo.
Não ia ser possível realizar as inovações e transformações na estratégia do negócio dessa forma.
Uma nova cultura era necessária para impulsionar a execução da nova estratégia.
A nova cultura se sustentou em alguns pilares para moldar os comportamentos e atitudes dos mais de 120 mil colaboradores da empresa:
Obsessão pelo cliente.
Mindset de crescimento.
Equipes diversas e inclusivas.
Colaboração.
Uma Microsoft.
Satya liderou esse processo porque sabia do seu papel como CEO para desenvolver e escalar uma nova cultura em uma empresa.
Não é comum ver um CEO tão conectado a esse tema. E isso faz toda a diferença em uma jornada de transformação cultural.
Afinal, Um dos principais motivos de projetos de transformação cultural não darem certo é a falta participação ativa dos principais líderes do negócio no projeto.
Os resultados da transformação
Em 2018, após 4 anos de gestão de Satya Nadella, a Microsoft ultrapassa o Google em valor de mercado, refletindo o sucesso das estratégias e a transformação cultural.
A partir daí, a empresa continuou a investir pesadamente em computação em nuvem, inteligência artificial e outras tecnologias emergentes.
Em 2021, a Microsoft atinge US$ 2 bilhões em valor de mercado, tornando-se uma das empresas mais valiosas globalmente.
Hoje (Out/24), a Microsoft figura entre as 3 empresas de maior valor de mercado do mundo, rivalizando mês a mês com Apple e Nvidia nas primeiras posições.
Dados de 04/10/2024
Um crescimento incrível nos resultados nos últimos 10 anos:
Crescimento de 718% no valor de mercado (!!!).
Crescimento de 185% no faturamento.
Crescimento de 300% no lucro líquido.
No vídeo abaixo, Satya Nadella conta um pouco de suas percepções de toda essa história.
Veja seu depoimento a partir do minuto 3:15...
O exemplo da Microsoft mostra como a conexão entre estratégia e cultura produzem resultados fantásticos para um negócio.
Quando falamos a palavra "Cultura" junto com a palavra "Estratégia" é muito provável que você se lembre automaticamente da famosa frase "A Cultura come a estratégia no café da manhã".
A frase, atribuída a Peter Drucker, se tornou lugar-comum quando se fala em cultura organizacional.
Muitas pessoas interpretam a frase considerando que a Cultura seria um elemento mais importante que a Estratégia em uma organização. Ou que, independente da estratégia, seria a cultura o elemento que determina se um negócio terá sucesso.
O que a gente pode perceber dessa história da Microsoft é que Cultura e Estratégia são igualmente importantes.
Sem uma nova Estratégia, a Microsoft não teria chegado onde chegou.
Ao mesmo tempo, sem uma nova Cultura, essa estratégia não sairia do papel...
A gente consegue perceber que Estratégia e Cultura não competem. Elas atuam em sinergia. Ambas precisam estar conectadas para que uma empresa tenha sucesso!
A história da Microsoft mostra que cultura não come a estratégia no café da manhã. Estratégia e Cultura, na verdade, tomam juntas o café da manhã.
Para saber mais sobre como Desenvolver uma nova Cultura em sua empresa, conheça os 4 Ds da Evolução Cultural.
Sobre o Autor
André Souza é fundador e CEO da FUTURO S/A, consultoria que ajuda a realizar transformações na cultura, na estratégia e no RH de grandes empresas.
Ao longo de sua carreira, André atuou como Executivo de RH liderando equipes e projetos na América Latina, EUA e Europa em grandes organizações como Bayer, Monsanto, Coca-Cola Company, Newell Brands & Nokia.
André é formado em Administração pela UERJ e Mestre Acadêmico em Administração de Empresas pela PUC-Rio.
Além disso, possui certificação internacional como Master Trainer da StrategyTools na Noruega e em “Futures Thinking & Foresight” pelo Institute for the Future em Palo Alto, na Califórnia (EUA);
André é autor de 4 livros:
FUTURO S/A (esgotado)