Nos últimos anos, a gente tem lido muito sobre todas as transformações que teremos nos próximos anos. Veremos a criação de segmentos de mercado totalmente novos, novas profissões...
Mas será que o Brasil está preparado e será competitivo nesta nova Era Digital?
Nossas escolas e universidades estão formando pessoas preparadas para lidar com essa nova realidade?
Quais os países que estão preparando de forma mais eficiente as suas crianças para os desafios do Trabalho no Futuro?
A cada 3 anos, a OECD (Organization for Economic Co-operation and Development) realiza o PISA - um teste com estudantes de 15 anos de idade em temas como Matemática, Leitura e Ciências.
O PISA acaba sendo hoje uma espécie de Ranking Mundial da Educação - onde é possível comparar diferentes países sob uma mesma base de referência.
Os resultados mostrados em 2015 mostram que os países Asiásticos continuam a dominar e a se destacar na lista. Veja abaixo:
Top 5 do Pisa em CIÊNCIAS:
Singapura: 556 pontos
Japão: 538 pontos
Estônia: 534 pontos
Taipei chinesa: 532 pontos
Finlândia: 531 pontos
Top 5 do Pisa em LEITURA:
Singapura: 535 pontos
Hong Kong (China): 527 pontos
Canadá: 527 pontos
Finlândia: 526 pontos
Irlanda: 521 pontos
Top 5 do Pisa em MATEMÁTICA:
Cingapura: 564 pontos
Hong Kong (China): 548 pontos
Macau (China): 544 pontos
Taipei chinesa: 542 pontos
Japão: 532 pontos
Mas e o Brasil neste ranking?
Entre 70 países, o Brasil ficou na 63ª posição em Ciências, na 59ª em Leitura e na 66ª colocação em Matemática.
Os resultados do Brasil já são, por si só, alarmantes para os desafios de hoje.
Imagine os riscos que vamos enfrentar considerando tudo que vem pela frente nos próximos anos...
Mas precisamos ter um olhar que vai além das avaliações e rankings do presente. É preciso pensar a Educação que precisamos criar hoje para formar pessoas para os desafios que teremos no Futuro.
As soluções existem. Bons exemplos não faltam - e que podem se tornar inspiração para o nosso Brasil neste novo ciclo que teremos a partir de 2019.
A maior parte dos países que tem inovado nessa área tem colocado em xeque o modelo tradicional de educação que está por aí desde o Século XIX.
... Sai o decoreba e surge a capacidade de desenvolver o pensamento crítico.
... Sai o ensino por disciplinas que não conversam entre si. E surge o ensino que conecta horizontalmente todas essas discipinas.
... Sai o aprendizado passivo com foco exclusivo no conteúdo. E surge o professor como facilitador desse processo e da conexão entre os temas.
... Sai o aprendizado meramente conceitual. E o surge o ensino que combina conceitos com ações práticas através de projetos práticos que resolvem desafios reais.
... Sai o aprendizado em só uma parte da vida. E surge o conceito de "lifelong learning" ou aprendizado por toda a vida.
Não tem nada de ultra revolucionário conceitualmente. Mas o fato é que isso não acontece num passe de mágica. Toda a estratégia, o modelo de ensino e a formação dos professores precisarão ser transformados e adaptados para criar as condições para tudo isso acontecer.
As boas práticas de países que passaram por essa transformação mostra que é um processo de médio e longo prazo, que dura décadas. E o principal: que é um processo em constante evolução por conta da velocidade das mudanças que estamos vivendo - e continuaremos a viver nos próximos anos.
Vale a pena conhecer dois exemplos bacanas: Singapura e Finlândia.
1) Singapura: Quando Singapura se tornou um país independente na década de 60, era uma ilha extremamente pobre, sem recursos naturais, pouca água... Em apenas uma geração o país se transformou em uma economia de 1o mundo, como um Hub importante na Ásia no Mercado Financeiro e no Comércio.
Um dos seus pilares de transformaçao no desenvolvimento do país foi exatamente a Educação.
Sem recursos naturais, o país decidiu colocar a Educação como o grande pilar para desenvolver o seu maior e único recurso: os cérebros e os talentos de seus habitantes.
A Educação se transformou na grande estratégia para criar vantagem competitiva no médio e longo prazo. Tudo isso aliado a uma estratégia diferenciada no recrutamento, formação, desempenho, remuneração e carreira dos professores.
Tudo conectado à uma visão de longo prazo - que se traduzem em objetivos claros, desafiadores e um sistema meritocrático.
Um aspecto interessante da estratégia de Singapura em educação é o olhar à frente do seu tempo.
Na maior parte dos países, as formações relacionadas Ciência, Tecnologia, Engenharia e Mática (o chamado STEM) foram o grande foco nos últimos anos.
Ainda nos anos 90, Singapura começou a questionar o foco demasiado em STEM. Não que elas não fossem importantes. Mas já naquela época - Singapura começõu a focar em temas em que seremos (pelo menos no curto prazo) melhores que as máquinas: Artes, Esportes e Temas relacionados à Humanas.
E essa abordagem tem evoluído nos últimos anos para desenvolver elementos como Empatia, a Criatividade e o Empreendedorismo.
Se você quiser saber com mais detalhes a história desta Transformação, vale a pena ler este artigo do World Economic Forum. E também esse relatório mais completo da própria OECD.
2) Finlândia: Um país de apenas 6 milhões de habitantes que tive a oportunidade de conhecer de perto na época em que trabalhava na Nokia.
A Finlândia já há um tempo tem sido reconhecida como um referência na qualidade da educação. Mas parece que o país não está satisfeito e está mirando as oportunidades que o futuro nos reserva.
A FInlândia está, desde 2015, promovendo uma verdadeira revolução no formato tradicional de ensino-aprendizagem.
Um dos pilares dessa Transformação é deixar de utilizar o formato tradicional de estudarmos disciplinas isoladas - algo que é feito há mais de 200 anos, numa época em que as coisas eram mais previsíveis.
Um novo sistema foi desenvolvido para esta nova Era, onde não existem fórmulas prontas. Onde as soluções vão surgir por meio das perguntas e pela correlação das disciplinas.
Uma metodologia que os Finlandeses chamam de "Phenomenon-Based Learning" (PBL).
Um tema geral como "Mudanças Climáticas" ou "Imigração", por exemplo, é estudado de forma mais horizontal: cruzando as disciplinas.
O tema é debatido e trabalhado utilizando, ao mesmo tempo, elementos da Matemática, Ciências, Leitura, História, etc... E para fortalecer o aspecto prático, tudo inclui projetos interdisciplinares onde esses conhecimentos são colocados em ação.
“When it comes to real life, our brain is not sliced into disciplines ... we are thinking in a very holistic way. And when you think about the problems in the world – global crises, migration, the economy, the post-truth era – we really haven’t given our children the tools to deal with this inter-cultural world.” (Kirsti Lonka, University of Helsinki)
Vale a pena dar um click no vídeo abaixo de apenas 2 min resumindo alguns dos princípios deles - e que explicam muito sobre seus resultados.
Se você quiser saber com mais detalhes sobre essa Revolução que a Finlândia vem promovendo em seu modelo de Educação, veja essa matéria do World Economic Forum.
E esse artigo muito bacana da BBC, de Londres.
E também esta matéria do Jornal O Globo.
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Além de Gestão, é preciso priorizar os investimentos em Educação
Apesar do Brazil investir 6% do PIB em Educação, a gente tem uma população muito grande, se compararmos a Singapura e à Finlândia.
No Brasil, temos mais de 200 milhões de habitantes.
Na Finlândia e em Singapura, são apenas cerca de 6 milhões de pessoas em cada país.
Isso faz com que o Investimento em Educação per Capita seja muito menor no Brasil.
Para contornar o problema, é fundamental que, nos próximos anos os investimentos em Educação sejam aumentados. Para chegar a patamares próximos ao de Singapura e da Finlândia, precisaremos rever as prioridades nos investimentos. E talvez desenvolver uma parceria com a iniciativa privada para turbinar esse desenvolvimento.
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E qual o impacto disso tudo para as Organizações nos próximos anos?
Como vc pode ver abaixo, muitos desses países que estão na frente no ranking de educação acabam formando profissionais mais bem preparados para atuar neste mundo VUCA.
A gente já viu que isso não acontece por acaso: é resultado de uma combinação poderosa que envolve visão de longo prazo, estratégia e investimento.
No Brasil, a gente já conhece bem os nossos problemas nessa área.
Além do fato de sabermos que a qualidade esteja muito longe do ideal, ainda temos um grande problema: a distância entre o que é ensinado nas Universidades e as competências necessárias para os profissionais nos próximos anos ainda é muito grande.
E isso vale tanto para as competências técnicas quanto as não-técnicas. Continuamos formando profissionais para um mundo que não existe ou que não existirá mais.
Nunca foi tão importante quanto olhar para esse tema como agora.
Sem uma estratégia de médio e longo prazo para a Educação, nosso país se manterá como um país dependente dos seus recursos naturais - e sem competitividade para o os desafios que teremos nos próximos anos.
E isso será crítico em um mundo onde novas tecnologias estão surgindo em alta velocidade, transformando mercados e criando segmentos totalmente novos na Economia.
O maior risco para o Brasil nesta nova Era Digital é ficar pra trás nesse processo de transformação. E não conseguir contruir as bases para lidarmos com o futuro que vem pela frente.
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