O maior risco das empresas atualmente vai muito além das novas tecnologias e das ações de seus competidores. O maior risco de uma empresa hoje está relacionado à sua capacidade de atrair e manter engajados os talentos que ela precisa para colocar a sua estratégia em ação.
O título desse texto "Sem ótimos profissionais na sua empresa, sua visão de futuro será irrelevante" é, na verdade, uma frase certeira de Jim Collins. Uma frase que fala muito sobre a importância de ter as pessoas certas para fazer a estratégia do negócio ter sucesso.
Mas como atrair essas pessoas que a sua empresa e a sua área precisam? Como fazer com que os profissionais que você precisa escolham a sua empresa para trabalhar?
A parte financeira sempre é importante. Mas, cada vez mais, os elementos não-financeiros se tornam fator decisivo para que um ótimo profissional escolha se vai trabalhar na sua empresa ou não.
E a CULTURA de uma empresa cumpre hoje um papel fundamental para definir se as pessoas vão escolher ou não a sua organização para trabalhar - sobretudo os profissionais que são mais cobiçados e escassos no mercado.
Cultura é o elo entre a estratégia e a alta performance.
Executivos e líderes que não invistam tempo e energia em desenvolver a cultura que precisam poderão ver ótimos profissionais deixando a empresa e ver talentos recusando suas ofertas de emprego.
E, sem talentos, a sua visão de futuro será irrelevante. Sua estratégia será mal executada. E os resultados do negócio serão seriamente impactados.
E como é possível adotar a cultura como um instrumento para atrair os talentos que uma empresa precisa?
Há diversas estratégias, mas uma de maior destaque é a capacidade de desenvolver uma cultura única. E o que seria uma empresa com uma cultura única?
Uma empresa com uma cultura única mostra de forma clara e explícita o que é, de fato, valorizado, reconhecido e praticado de forma específica naquela organização. Seus atributos se diferenciam tanto de outras empresas que ela não se parece com nenhuma outra.
Com essa forma diferenciada de atuar e se posicionar, fica muito claro o perfil de profissionais que aquela empresa deseja atrair. E, ao mesmo tempo, também fica claro o perfil de profissionais que essa empresa NÃO quer atrair.
Isso, por si só, já evitaria uma série de decisões equivocadas de contratação das pessoas e eliminaria uma série de custos... Mas o que acaba acontecendo, na prática, é exatamente o oposto.
Muitas empresas acabam tendo tanta pressa para preencher uma vaga ou focam tanto em achar um candidato com competências técnicas excepcionais, que acabam contratando pessoas que não têm nada a ver com a cultura da empresa.
E para os profissionais que se candidatam para as vagas, ter esse posicionamento claro da sua empresa é extremamente importante.
A pior coisa que pode acontecer é você ser contratado por uma empresa que se vendeu de uma forma - e na realidade a sua experiência no dia a dia ser algo totalmente diferente do que foi "vendido" no momento da entrevista.
Não faz nenhum sentido ter um conjunto de valores que não são colocados em prática. É muito mais genuíno mostrar como as coisas realmente são. Até porque um profissional recém-contratado vai conhecer a realidade da empresa logo em seus primeiros dias.
O problema é que muitas vezes a necessidade de preencher uma vaga é tão grande que vende-se uma empresa que não existe no mundo real. Por isso, é preciso ter muito cuidado com as ações relacionadas a EVP e Employer Branding. Essas ações precisam estar muito conectadas com a cultura real da empresa. E não em uma cultura utópica, muito distante da experiência que os funcionários têm na empresa.
Dois exemplos práticos:
Jason Kilar hoje foi CEO da WarnerMedia, conglomerado de marcas como HBO, CNN, WarnerBros, TNT, Cartoon Networks e de todo o universo de heróis da DC Comics como Superman, Batman, Mulher-Maravilha, etc.
Em 2007, Jason Kilar fundou a Hulu. A Hulu foi uma das pioneiras (junto com Netflix) em apostar em streaming de vídeo. Antes de iniciar a operação, Jason decidiu dedicar boa parte do seu tempo em definir claramente qual seria a cultura do Hulu.
Esse foco de Jason por Cultura não nasceu por acaso. Ela vinha de sua bem-sucedida experiência como executivo na Disney e na Amazon. Nessas empresas, ele aprendeu sobre a importância de deixar a Cultura clara dentro e fora da organização.
Como resultado do foco de Jason e dos demais fundadores do Hulu, foi criado um documento chamado "O que define o Hulu". O documento deixa claro o que era valorizado na empresa, a forma de trabalhar no Hulu - e é claro, o perfil de pessoas que o Hulu desejava atrair e contratar.
Outro grande exemplo de empresa que deixa muito claro o que valoriza e pratica é a Amazon.
Seus 16 princípios de liderança são promovidos em qualquer apresentação de Jeff Bezos, Andy Jassy e executivos dentro e fora da empresa. E, é claro, são elementos que definem os profissionais que serão contratados e promovidos da empresa.
Veja a descrição de um desses princípios:
Não são todas as empresas que realmente colocam o debate e a discussão como elementos da sua cultura. A maior parte pratica uma série de reuniões para alinhamentos prévios exatamente para evitar conflitos.
O fato é que para aqueles que não gostam de debater ou de ter suas ideias desafiadas na frente dos outros, empresas como a Amazon certamente não serão os melhores lugares para essas pessoas trabalharem.
Ou seja: a Amazon, ao deixar claro aquilo que realmente acredita e pratica no dia a dia, já afastou uma série de profissionais que não curtem trabalhar nesse tipo de ambiente.
Por outro lado, o lado positivo dessa transparência é que a empresa vai atrair exatamente quem curte o debate, a troca de ideias diferentes e o conflito positivo.
Cada empresa de sucesso possui uma cultura desenvolvida para colocar a sua estratégia em ação.
Veja nesse vídeo de 1 minuto uma explicação bacana do Ben Horowitz (autor de "Você é o que você faz") falando um pouco sobre como ter uma cultura única atrai os talentos que cada negócio precisa...
Aqui ele faz uma distinção clara entre a Cultura da Amazon e a Cultura da Apple.
No final das contas, cultura é sobre escolhas, valores, crenças e posicionamento. Deixar claro quais são os elementos que a sua empresa valoriza e como as coisas são feitas contribui decisivamente para que a sua empresa possa atrair, manter os talentos que realmente precisa.
Este texto é parte do meu mais recente livro "Transforme a Cultura da sua Empresa".
Sobre o autor
André Souza é fundador da FUTURO S/A, empresa que ajuda organizações a realizarem transformações em suas estratégias e ações de RH.
Nos últimos 20 anos, André atuou como Executivo de RH liderando equipes e projetos na América Latina, EUA e Europa em grandes organizações como Bayer, Monsanto, Coca-Cola Company, Newell Brands & Nokia.
André é formado em Administração pela UERJ e Mestre Acadêmico em Administração de Empresas pela PUC-Rio. Além disso, possui Certificação Internacional em “Futures Thinking & Foresight” pelo Institute for the Future em Palo Alto, na Califórnia (EUA).
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